Muita rua, muita gente. Muito rápido.
Metrô. Saúde, Tucuruvi, Jabaquara.
O delicioso mundo das padarias.
Vila Madalena e Pompéia como amante e esposa. Uma serve pra sonhar, a outra é pra viver a vida. Ficam as duas eternamente se provocando e a gente achando graça, porque não se pode amar uma sem a outra.
A fria e bela menina Av. Paulista. Arrebatando olhares e trincando ossos. Linda de espantar, se abrindo toda, iluminada pelo céu de inverno. Louca de pedra, literalmente.
Augusta. Cinema, putas desbotadas-coloridas, música e seres exóticos. Longa e crua. Marco da profanação.
O Maravilhoso Mercado Mágico Central. Frutas paradisíacas, bancas pictóricas, monumentais sanduíches de mortadela. Dá vontade de lamber o chão.
Estação da Luz. Transcendental. Ecoando abraços, lágrimas e sorrisos. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro e da despedida de gerações. Os Brasis e os mundos todos lá. O coração aperta e nem se liga que assim transborda mais.
Tudo enorme para nós formiguinhas.
Cracolândia. De costas pra Luz, o sobejo de coisas que imagino um dia terem sido gente. Ao meio dia, cardápio de putas na casa de tolerância: loira triste; nordestina arrependida; gorda sentada. Aviso: Puta alegre tem, mas acabou.
Que nem a felicidade aqui.
Desço a Consolação só pra me perder enquanto olho os aviões.
Me acho entre guitarras e violões na Teodoro Sampaio.
Sobe e desce na Santa Efigênia atrás dum megafone.
Não quero nenhuma roupa da José Paulino. Não quero nenhuma quinquilharia da 25 de Março.
Mas a Liberdade eu quis! Quis, quis, quis. Comi, cheirei, comprei a Liberdade pra mim, entre nipônicos delírios consumistas e orgasmos gastronômicos.
Explosão sensorial, e viva a imigração japonesa. Afasta a morte essa tal de Liberdade.
Descer a Serra rumo ao litoral é nutrir os olhos e desentupir os ouvidos. Mas o mar é feio, e eu sou cosmopolita. Deu saudade da cidade cinza, e das luzes embaçadas no frio. Talvez porque nela as cores conheçam seu verdadeiro valor.
Mas valeu a pena sentir o coração fechar e novamente se encher de sol ao atravessar os túneis da Estrada de Santos.
Ao regressar havia um homem de paletó dando voltas num poste como Fred Asteire, e tudo fez sentido. Talvez porque era domingo. Talvez porque era Sampa.
Pelas avenidas, paredões de vidraças em prédios psicodélicos. Prédios estratosféricos. Históricos. Coloridos. Decadentes. Babilônicos.
Babel. Todo mundo é daqui. Aqui ninguém tem rosto, e como é grande e esmagadora a sensação de sermos um só.
Aqui o absurdo toma forma e fica até bonito, muitas vezes.
Aqui a deselegância é discreta, e os narcisos não tem espelho.
Porque é o avesso, do avesso, do avesso, do avesso.
Welcome to Concret Jungle.
The living is hardest, mas é incrível aqui.
Se jogue pedacinho no grosso fluxo que alimenta e doa toda vida quanta for possível a esse monstro feito de pedra, sangue, tempo e luz.
E mesmo que não entenda nada, as coisas que acontecerão no seu coração traduzirão a dura poesia concreta dessa cidade.
E é depressa que você aprende a chamá-la de realidade.
Por Nathalia Ferro.
Metrô. Saúde, Tucuruvi, Jabaquara.
O delicioso mundo das padarias.
Vila Madalena e Pompéia como amante e esposa. Uma serve pra sonhar, a outra é pra viver a vida. Ficam as duas eternamente se provocando e a gente achando graça, porque não se pode amar uma sem a outra.
A fria e bela menina Av. Paulista. Arrebatando olhares e trincando ossos. Linda de espantar, se abrindo toda, iluminada pelo céu de inverno. Louca de pedra, literalmente.
Augusta. Cinema, putas desbotadas-coloridas, música e seres exóticos. Longa e crua. Marco da profanação.
Estação da Luz. Transcendental. Ecoando abraços, lágrimas e sorrisos. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro e da despedida de gerações. Os Brasis e os mundos todos lá. O coração aperta e nem se liga que assim transborda mais.
Tudo enorme para nós formiguinhas.
Cracolândia. De costas pra Luz, o sobejo de coisas que imagino um dia terem sido gente. Ao meio dia, cardápio de putas na casa de tolerância: loira triste; nordestina arrependida; gorda sentada. Aviso: Puta alegre tem, mas acabou.
Que nem a felicidade aqui.
Desço a Consolação só pra me perder enquanto olho os aviões.
Me acho entre guitarras e violões na Teodoro Sampaio.
Sobe e desce na Santa Efigênia atrás dum megafone.
Não quero nenhuma roupa da José Paulino. Não quero nenhuma quinquilharia da 25 de Março.
Mas a Liberdade eu quis! Quis, quis, quis. Comi, cheirei, comprei a Liberdade pra mim, entre nipônicos delírios consumistas e orgasmos gastronômicos.
Explosão sensorial, e viva a imigração japonesa. Afasta a morte essa tal de Liberdade.
Descer a Serra rumo ao litoral é nutrir os olhos e desentupir os ouvidos. Mas o mar é feio, e eu sou cosmopolita. Deu saudade da cidade cinza, e das luzes embaçadas no frio. Talvez porque nela as cores conheçam seu verdadeiro valor.
Mas valeu a pena sentir o coração fechar e novamente se encher de sol ao atravessar os túneis da Estrada de Santos.
Ao regressar havia um homem de paletó dando voltas num poste como Fred Asteire, e tudo fez sentido. Talvez porque era domingo. Talvez porque era Sampa.
Pelas avenidas, paredões de vidraças em prédios psicodélicos. Prédios estratosféricos. Históricos. Coloridos. Decadentes. Babilônicos.
Babel. Todo mundo é daqui. Aqui ninguém tem rosto, e como é grande e esmagadora a sensação de sermos um só.
Aqui o absurdo toma forma e fica até bonito, muitas vezes.
Aqui a deselegância é discreta, e os narcisos não tem espelho.
Porque é o avesso, do avesso, do avesso, do avesso.
Welcome to Concret Jungle.
The living is hardest, mas é incrível aqui.
Se jogue pedacinho no grosso fluxo que alimenta e doa toda vida quanta for possível a esse monstro feito de pedra, sangue, tempo e luz.
E mesmo que não entenda nada, as coisas que acontecerão no seu coração traduzirão a dura poesia concreta dessa cidade.
E é depressa que você aprende a chamá-la de realidade.
Por Nathalia Ferro.